sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

CHICO BUARQUE DEDICA NOITE DE ESTREIA NO RIO A OSCAR NIEMEYER

Cantor homenageou arquiteto de 104 anos, que estava na plateia. Músico carioca não se apresentava na cidade desde 2007.
Uma homenagem surpresa marcou a volta de Chico Buarque aos palcos cariocas na noite desta quinta-feira (5), no Vivo Rio, casa de espetáculos da Zona Sul da cidade. Próximo ao fim do show, o primeiro no Rio de Janeiro desde 2007, o músico desviou a atenção do público (e consequentemente os holofotes) para uma presença especial na plateia.
"Gostaria de dedicar esta noite ao meu querido amigo Oscar Niemeyer", disse Chico, puxando palmas para o arquiteto de 104 anos, recém-completados em dezembro último. A carinhosa saudação do músico, ele mesmo um ex-estudante de arquitetura, tomou uma rápida proporção de delírio coletivo e fez com que Niemeyer, que assistiu ao show na primeira fila, acabasse sendo aplaudido de pé por pessoas acomodadas em todos os setores da casa.
Mas Niemeyer não foi o único agraciado da noite. De manera mais comedida, porém igualmente delicada, Chico dá um jeitinho de relembrar parceiros e pessoas queridas ao longo dos cerca de 90 minutos de apresentação. Como Tom Jobim, seu eterno "maestro soberano", com quem compôs "Anos dourados" e "A violeira"; Edu Lobo, colaborador em "Choro bandido", "Valsa brasileira" e "Carreira" (esta última encerra o show). Ou a namorada, a cantora Thais Gullin, também presente ao Vivo Rio, para quem canta "Essa pequena" ("Meu tempo é curto, o tempo dela sobra / Meu cabelo é cinza, o dela é cor de abóbora").
É o apito de um trem, parte da introdução da canção "O velho Francisco", que anuncia a volta do malandro à sua praça, o Rio de Janeiro, cerca de 25 minutos depois do horário previsto (o show estava marcado para 21h). Elegantemente vestido de preto pelas mãos do figurinista Cao Albuquerque, Chico Buarque demonstrou nervosismo no início do show. Parecia excessivamente concentrado nas letras e nos acordes das primeiras músicas do espetáculo, dentre elas "Desalento", gravada no clássico álbum "Construção", de 1971; e "Injuriado", esta mais recente, incluída no CD "As cidades", de 1998.
"Obrigado. Boa noite, Rio", cumprimentou o compositor, ainda se aclimatando à tietagem basicamente feminina e aos gritos de "Lindo!" e "Gostoso!" e "Maravilhoso!", que ecoaram entre os números iniciais.
Mas a fisionomia tensa ficou para trás durante "Rubato", faixa de seu trabalho mais recente, "Chico". Foi quando o compositor largou o instrumento, tirou o microfone do pedestal, passeou pelo palco e brincou com Jorge Helder, coautor da música. "Este é o baixinho baixista, meu parceiro comparsa nesta música", divertiu-se Chico brincando com as palavras, uma de suas especialidades.
A banda, ao lado lado do repertório infalível acumulado ao logo de mais de 40 anos de carreira, é um dos pontos fortes do show. Além de Helder, Luiz Claudio Ramos (direção musical, arranjos, regência e violões), João Rebouças (piano), Bia Paes Leme (teclados e vocais), Wilson das Neves (bateria), Chico Batera (percussão), e Marcelo Bernardes (flauta e sopros) vêm acompanhando Chico pelos palcos nacionais e internacionais há décadas.
É visível a intimidade dos músicos com o criador e suas canções, transpostas para o palco sob a batuta e o bom gosto do maestro Luiz Claudio — é debruçado ao violão de Ramos, por exemplo, que "Geni e o zepelim" ganha um surpreendente contorno flamenco. "Obrigado aos amigos que me acompanham há tanto tempo", agradece Chico.
Fora tradicionais apresentações e cumprimentos, não há interação entre artista e público. As músicas são executadas com um intervalo mínimo entre elas, apenas o tempo necessário para o alarido dos aplausos terminar. Mas ninguém parece se importar muito com a pouca comunicação. "Quem tem um repertório desses dispensa presença", destacou uma atenta senhora nos camarotes.
Recursos eletrônicos para ajudar com as letras, como monitores ou teleprompters, são esnobados. As únicas anotações próximas ao cantor no palco são duas folhas de papel, com a ordem das músicas, coladas no chão. Todos os versos de todas as músicas estão decorados. Ou quase todos.
"Errei a letra", entrega-se Chico durante "Sinhá", parceria com João Bosco, que encerra seu último álbum. Aplausos. Até um deslize vira atração aos olhos e ouvidos da plateia carioca.
Os momentos mais divertidos e descontraídos da noite são os duetos com o aplaudidíssimo baterista e sambista Wilson das Neves, que canta "Sou eu" e "Tereza da praia" (Jobim mais uma vez) junto do dono da festa — é a hora em que Das Neves reverencia o amigo tirando o chapéu, literalmente, para cantar com o autor de "A banda".
A temporada carioca de Chico Buarque prossegue até o dia 12 de fevereiro. Depois, o músico segue para São Paulo, com shows entre 1º e 25 de março. Se trilhar o mesmo caminho de suas duas últimas turnês, é provável que o público possa levar o espetáculo para casa em CD e DVD ainda este ano. (G1)

Nenhum comentário:

Postar um comentário