segunda-feira, 26 de abril de 2010

A RECEITA DO JORNALISMO SERRISTA

No Blog de Brizola Neto
segunda-feira, 26 abril, 2010 às 9:34
O artigo “Brasil grande, Brasil pequeno”, de Luiz Paulo Horta faz ontem, em O Globo – e não consegui dar conta de tudo aqui no blog – um “modelito” do figurino que se vai usar na mídia para defender Serra e desqualificar Dilma.

Vale a pena analisar para ver como é a técnica serrista do “eu-finjo-que- não- sou- contra-para-ganhar-e-depois-mudo-tudo”

A receita é assim: primeiro breves elogios ao governo Lula, de preferência dizendo que ele continuou as políticas sábias de FHC, sua maturidade e coisas do gênero. Usariam “soube aproveitar o cenário internacional favorável” mas depois da crise de 2008 ficou meio difícil aproveitar isso.

A partir daí, vão se mostrar generosos e preocupados com o destino do Brasil e com os avanços sociais. Vocês verão como haverá variações em torno do “O Brasil pode mais” serrista. Horta, por exemplo, escreve, sem pudor, que “agora é preciso mais”.

Daí em diante, passarão a desqualificar Dilma e apresentar Serra como o bom moço, o político equilibrado, o homem preparado capaz de levar o país para a frente.

Dilma, dirão os jornais, é aquela que quer dividir o país com “um discurso político que nos devolve aos tempos sombrios do maniqueísmo ideológico”, como escreveu o acadêmico Horta.

Serra, que defende o Brasil de sempre, seria o novo; Dilma, que propõe um novo rumo, a volta ao passado.

Os homens da pena digital sabem que não vai dar mais para invocar “o mercado”. O “mercado” danou-se, desmoralizou-se correndo o chapéu diante do Estado.

Já está ficando “saidinho” de novo, mas ainda não pode voltar a proclamar-se Deus. Então, o caminho agora é o avanço social. “Vão fazer” pela educação, pela saúde, pela inclusão social o que nunca fizeram com a faca e o queijo na mão por anos a fio.

Horta, por exemplo, invoca a necessidade de uma “reforma profunda” na educação, setor em que Serra naufragou no governo de São Paulo, não apenas reduzindo o investimento no setor até zerá-lo, como já mostramos aqui, como também enfrentando os professores com a polícia.

Claro que o articulista de O Globo sabe disso e se presta a sair em defesa do tucano, classificando as escolas públicas de “massa de manobra para pretensos líderes sindicalistas — como se vê nas repetidas greves do ensino em São Paulo.”

O Globo, a Folha, o Estadão, em seus editoriais e com seus articulistas bem pagos para representar suas posições, têm todo o direito de optar por uma candidatura e defendê-la. Mas que ninguém se engane com conversas sobre uma suposta neutralidade, como veio falar ontem a ombudswoman da Folha.

Os jornais são parte da campanha tucana. Terão alguns espaços para vozes divergentes, claro, pois isso engana os incautos sobre a tal “neutralidade”.

É por isso que uma das nossas maiores tarefas é acompanhar o que dizem, desmontar as armações e nos cuidarmos. Como lhes falta argumento, tentarão nos mostrar raivosos, irracionais ou “trogloditas de espírito” como se afirmou ontem.

Nos cabe ter a sabedoria e a serenidade como condições permenentes, fugir das provocações mas, ao mesmo tempo, não transigir diante das manipulações.

É por causa do “política é assim mesmo” que o Brasil é, há tanto tempo, assim mesmo.

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